sábado, 9 de novembro de 2013

O Banquete: Um diálogo Possível Sobre Política



                      Esta é uma representação de um diálogo possível 
            sobre Política.

ARISTÓTELES: O homem é um animal político e só tem sentido quando inserido em sociedade. Diferentemente de outros animais, o homem tem a capacidade de compreender o justo e o injusto, pois possui a racionalidade como condutora de uma vida virtuosa não só individual, mas coletiva. Somente na vida social o homem pode atingir a plenitude de seu ser, assim, a democracia da polis depende de cidadãos livres e autônomos. Existem três tipos de governos: Democracia, que pode se desvirtuar para a Demagogia; Aristocracia, que pode se desvirtuar para a Oligarquia; e a monarquia, que pode virar uma tirania. Portanto, o governante deve ser virtuoso.

EPICURO: Você, Aristóteles, viveu numa Atenas que dava respaldo à sua teoria. Com o avanço de Alexandre Magno e sua política monarquista no lugar da democracia ateniense tudo se transformou. O homem grego de meu tempo não tinha mais a liberdade e procurava novas formas de encontrar a felicidade. Assim, entendi que o homem não precisa de razões exteriores a si para ser feliz, podia ser feliz por si mesmo através da paz de espírito e tranquilidade. Isto se consegue não através da busca da justiça, mas através da amizade. O homem deve afastar-se das coisas da política e da sociedade para ter maiores chances de felicidade.

NIETZSCHE: Concordo! Os filósofos genuínos deveriam abster-se do debate político e permanecer um pouco afastados, até porque, o Estado geralmente vê o filósofo como inimigo. O ser com furor filosófico não tem tempo a perder com o furor político, pois este é um desperdício de espírito, deve ser visto como um simples divertimento, tanta é sua falta de importância. Ao filósofo de espírito livre deve ser imposto o seguinte mandamento: “não farás política!”. A formação de Estados requer poder, aparecendo de um lado, alguém que manda e, de outro, os que obedecem. A massificação é inevitável e o sujeito é controlado, se não por uma ditadura, por um conjunto de leis.

SÊNECA: Vivi numa Roma Imperial e ajudei Nero em seu início de governo. Fui perseguido por seus antecessores Calígula e Cláudio porque eu representava força no Senado Romano, de quem estes não gostavam de dividir o poder. Inicialmente, consegui que Nero ouvisse o Senado, pois vejo a política como divisão de atribuições, depois, também ele se desviou. Um bom imperador produzirá um bom povo e seu reinado deve ser administrado sob a batuta da sabedoria, assim, o governante dá liberdade e justiça aos súditos que o mantém como governante. Este é a alma e o povo é o corpo.

MAQUIAVEL: Eu vejo que o governante deve fazer de tudo para manter o seu poder, pois os fins justificam os meios. Discordo de Aristóteles quando alia governo com a virtude. A moral e seus valores devem passar ao largo da forma de governar porque elas limitam as ações de quem governa. A ação do governante deve dirigir-se pela objetividade, pois nas questões de Estado há virtudes que, para a sociedade representam vícios e o que importa, para o governante,  é manter a estabilidade social a todo custo. 

SÓCRATES: Contrário a Nietzsche e Epicuro, penso que a vida em sociedade inevitavelmente nos leva à participação, mesmo quando recusamos. A maior qualidade de um governante é a sabedoria e, por isso, o sábio é quem deve conduzir a política. É dever do cidadão participar, através do diálogo, da vida da cidade, para não se deixar dominar por ideias de outrem, sem ao menos refletir sobre a melhor maneira de se dar a convivência social. Só um cidadão participativo e reflexivo pode conhecer a verdade, o que  impedirá de ser um marionete nas mãos do poder.

PLATÃO: Penso que as crianças deveriam ser separadas das mães para serem educadas por uma instituição, pertencendo ao Estado sua educação. Ao chegar aos vinte anos, aquelas que não tiverem habilidades próprias dos guerreiros, nem grande sabedoria, se tornariam artesãos, camponeses, comerciantes, etc..., dedicando-se a tarefas menos nobres. Aos trinta, deveriam ser separados aqueles sem grande sabedoria e já treinados para a defesa do Estados, a fim de serem soldados. Os que sobrarem, serão preparados para o exercício do governo até os cinquenta anos e serão os mais sábios. Se esta estrutura fosse representada pelo corpo humano, o primeiro grupo seria o abdômen, o segundo, representando a força, seria o tórax e, o terceiro, a cabeça, que deve comandar os dois outros através da razão.

PROTÁGORAS: Penso que a democracia seja a melhor solução, pois cada pessoa tem sua opinião sobre os assuntos da vida social. O conjunto de opiniões que forma uma maioria deve prevalecer sobre as outras opiniões minoritárias ou mais fracas. Portanto, deve-se exercer a arte do convencimento para que uma opinião forme este “discurso forte”, vencendo os discursos contrários.

ROUSSEAU: O homem é livre em sua essência, mas esta liberdade é relativa no corpo social, pois convive com outras liberdades. Penso que deva haver um contrato social, onde as individualidades dão direito a um terceiro, o governo, de legislar. Neste contrato, a soberania pertence ao povo, à vontade geral. O governo serve como corpo intermediário da vontade do povo. A lei expressa a vontade geral, garantindo a justiça e a liberdade. O legislador manda nas leis, não nos indivíduos. Por fim, a política é exercida em vista do bem comum, acima dos interesses particulares.

HOBBES: Penso que o contrato social seja inevitável, pois os homens nascem competitivos e precisam da força do Estado para controlar seus instintos. Discordo de Aristóteles quando diz que o homem é naturalmente sociável. Não condiz com a verdade, pois vê o outro como concorrente, sendo a união movida por interesses. O homem fica entre o seu instinto natural e a obrigação racional da convivência, fazendo com que o contrato social seja a única saída. Deste modo, a monarquia é o melhor modelo de governo, pois o monarca legisla com a obediência de todos. Neste contrato, o indivíduo renuncia seu direito natural, de razão e liberdade, e o entrega a um terceiro, a quem chamo leviatã, o soberano.

SARTRE: Em minha época, pós-revolução industrial e pós-guerras, houve o aparecimento da guerra fria, que representava o debate ideológico entre o capitalismo, baseado no mercado de capital de livre comércio, inspirado no liberalismo econômico; e o comunismo, inspirado nas ideias marxistas da luta classes para uma maior distribuição de renda. Fiquei do lado desta última por entender estar mais próximas do existencialismo, pois a liberdade é antes humana e depois econômica. Penso que o filósofo deva ser um engajado político sim e agir no meio do povo.

AGOSTINHO: Assim como há um reino de justiça pós-vida, deverá existir aqui também este mesmo reino, para que haja concórdia entre as pessoas, ou seja, a paz celestial deve ser reproduzida através da paz terrena. Este bem conviver está prescrito por Jesus através do mandamento “amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”. O homem é um peregrino na terra e deverá buscar nesta pátria terrena a maior proximidade possível com a pátria celestial.

KANT: O fim último da humanidade é a constituição da forma política perfeita, alcançada pelo exercício da paz e a supressão da guerra. Por isso, sou contrário à ideia de exércitos oficiais e permanentes, a favor apenas na montagem de grupos de cidadãos em momentos de crise para resolvê-las. Discordo de Platão de que deva haver preparação de guerreiro, pois o Estado não tem o direito de dispor da vida do indivíduo que obrigatoriamente o tenha que defender. É uma injustiça e uma irracionalidade. Homens não podem pôr-se a matar e serem mortos, pois assim como o Estado não tem a vida dos cidadãos a seu dispor, também um indivíduo não a tem sobre outro.

DESCARTES: Concordo com Sêneca e Epicuro no que tange à tranquilidade social como meio de viver a boa política. Assim, discordo de Protágoras, não pela ideia do discurso forte, pois este surge naturalmente, mas na ideia apresentada por Protágoras de que precise haver um embate entre as diversas formas de pensar. Este embate traz inconstância social, que é avessa à tranquilidade que apregoo. Penso que as coisas se acomodam em sociedade; então, o melhor é aceitar as decisões do governante; seria a melhor forma de ajuda-lo a governar, não criando crise, pois ele também precisa de tranquilidade para exercer o bom governo.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Dinheiro e seus usos

O Dinheiro (adaptação do poema "A Pedra")

Diógenes o desprezou;
o louco não rasgou;
o sovina guardou;
e o esbanjador o gastou.
o artista fez um circo;

o mercado endeusou; o pirata roubou e escondeu;
o político corrompeu-se por ele;
o trabalhador o contou tão pouco;
o mendigo pediu;
o pastor construiu templos;
o vaticano enriqueceu;
o cantor um disco gravou.

tornou o funkeiro um boçal,
de cordão de ouro e carrão;
e a funkeira vulgarizou,
ganhou dinheiro dizendo: "quero dá!"
 a prostituta deu... deu-se!

Em todos os casos
a diferença não está no dinheiro,
mas no ser humano.

domingo, 3 de novembro de 2013

Shopenhauer: Viver é Sofrer

Schopenhauer era uma personalidade interessante e, de certa forma, contraditório.
Via na ascese o bem viver, uma mistura de epicurismo com budismo. 
Sua personalidade melancólica batia de frente com sua retórica contundente.
Afirmava que “viver é sofrer”. E sofria...
Ia aos cafés à tarde acompanhado de seu cãozinho poodle. Confio naqueles que gostam de cães. Isto demonstra que reconhece as qualidades do animal, que caem bem aos humanos.
Dizem que sua crítica a Hegel era por despeito, já que este era reconhecido e Schopenhauer não. Não creio! Seu ressentimento não partia daí, mas de sua visão de mundo. A morte era a única solução e só nela encontraríamos a serenidade. Nela, não há desejo, não havendo sofrimento. Mortos, não desejamos, não sentimos a infelicidade, pois a infelicidade vem do descontentamento eterno dos vivos. Enquanto houver vida, há desejo; e enquanto houver desejo, não há realização plena. Então não há saída enquanto houver vida, sendo único caminho a morte.

Acreditava no amor como meta de vida, mas ele nada tem a ver com felicidade .

Eis algumas de suas frases:

“As pessoas tomam os limites de seu campo de visão como se fossem os limites do mundo.”
- Frase anti-sofista, pois esta corrente acreditava ser o homem “a medida de todas as coisas”.

“Em pessoas de capacidade limitada, modéstia não passa de mera honestidade; nas que possuem grande talento, é hipocrisia.”

“Quanto menos inteligente um homem é, menos misteriosa a existência lhe parece.”
- Como ateu, pensava que ao crente bastava acreditar em Deus e pronto, tudo estaria esclarecido, muito simples.

“A felicidade jamais foi considerada inoportuna.”

- Esta frase está mais como lamento do que para um elogio à felicidade. O que quer dizer que ela pode ser questionada.

Adriana Calcanhoto, Titãs, Jesus e o Estoicismo.

"Eu vejo tudo enquadrado
remoto controle..."
 Veja no link http://letras.mus.br/adriana-calcanhotto/43856/ - Esquadros - Adriana Calcanhoto

A frase escrita acima, da música "Esquadros", de Adriana Calcanhoto, resume o teor da letra, voltada para a filosofia estoicista. 
Os estoicistas acreditavam que tudo no mundo estava perfeitamente posto, "tudo enquadrado", cabendo a nós seguirmos o fluxo dos acontecimentos.
Devíamos aceitar as coisas como elas são porque nada pode mudar, ou seja, acreditavam em destino.
Em resumo, temos um "remoto controle" sobre nosso futuro. Assim sendo, o melhor para viver bem é aceitar as condições que nos são apresentadas, pois lutar contra o destino é sofrer à toa.
Aliás, "remoto controle" é uma magnífica inversão de "controle remoto". Com este aparelho nós podemos escolher a que canal assistir; na vida não, pois os acontecimentos surgem independente de nossas vontades.


Romanticamente, ou talvez nem tanto, a letra acrescenta:
"...Meu amor, cadê você 
eu acordei
não vi ninguém ao lado..."
Diz que você não tem o controle do amor de ninguém, ou pior, da vida, pois você nunca sabe se a pessoa que dorme contigo estará viva na noite seguinte para você amanhecer com ela. Neste caso surge como um lamento.

Também é um exemplo estoicista a morte de Jesus em cumprimento às escrituras.


 
A Lança do Destino, aquela que o soldado romano espetou Jesus na cruz é a imagem do ápice da morte de Jesus que, segundo o próprio, deveria se cumprir, conforme as escrituras sagradas apontavam.

Também possui esta verve estoicista a música “Marvin”, da banda paulista Titãs.

Ao morrer o pai diz ao filho:
“Marvin, eu fiz o meu melhor
e o seu destino eu sei de cor...”
A sabedoria e a vivência do pai revela o futuro do filho como fato consumado e, por mais que Marvin lutasse contra este mesmo destino, não adiantava, o rumo do filho era seguir os passos do pai, repetindo sua história de dificuldades.