terça-feira, 15 de novembro de 2016

ROSA DE LUXEMBURGO E O BEM VIVER

Viver é Lutar


“Nosso dia vai chegar
teremos nossa vez
não é pedir demais
quero justiça
quero trabalhar em paz
não é muito o que lhe peço
eu quero trabalho honesto...”

Fábrica – Legião Urbana





ROSA DE LUXEMBURGO


“Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”



              Rosa estava reunida com um grupo de militantes da causa operária avaliando os efeitos da greve quando adentrou no recinto um grupo de mulheres elegantes, vestindo roupas finas, diferente do grupo que comumente se reunia naquele espaço. O espanto tomou conta da reunião, não apenas por que as mulheres que acabaram de chegar pertenciam visivelmente à outra classe social, mas também por tão poucas mulheres participarem daquele espaço, em que uma das poucas era justamente Rosa.

              Catarina, a líder do grupo que chegara pediu a palavra:

              - Gostaríamos de conversar com Rosa – falou, demonstrando altivez na postura de quem impunha liderança.

              - Eis-me aqui... – Apresentou-se Rosa – O que desejam?

              - Queremos uma reunião apenas com as mulheres – Falou Catarina olhando ao redor como quem pedisse aos homens que se retirassem, no que foi atendida prontamente, não sem antes terem visto o aceno positivo de Rosa para que assim procedessem.

              - Pois bem, qual o motivo da reunião? – Perguntou Rosa, intrigada, já que aquelas mulheres não pareciam exatamente com as que normalmente se reúnem para lutar por uma causa.

              - Somos do Clube das Mulheres Cristãs e viemos conversar no sentido de encontrarmos uma solução para a greve geral que se estende há semanas. A cidade está um caos, lixo para todos os lados, falta de atendimento nos hospitais e repartições públicas, desabastecimento, enfim, uma série de dificuldades que nós, mães de família, estamos enfrentando. Avaliamos que os homens não estão sendo capazes de dar um fim satisfatório e penso que sensibilidade feminina possa resolver melhor esta questão da greve.

              - Antes da greve, para os mais pobres, estas dificuldades por você apontadas, já eram comuns. Aliás, um dos motivos da greve é justamente esta distância em que há entre estes dois mundos. Vocês, abastados, estão sentido na pele o que vive o pobre todos os dias de sua vida. – Discursou Rosa.

              - E estamos aqui justamente para construir um acordo que beneficie não apenas o término da greve, mas também que assegure vantagens aos trabalhadores em geral e suas famílias. Nossos maridos são os proprietários da maioria das fábricas e podemos influenciá-los apresentando o acordo que nós fizermos. – Propôs Catarina.

              - Entendo... – Falou Rosa – O que propõem?

              - Entendemos que os homens, num dado momento, deixam de lado o diálogo, a vaidade deles fala mais alto e o que seria um possível acordo torna-se intransigência de parte a parte. Já não é questão de luta, mas de vaidade masculina. Ficam de lado a família e a justiça social que tanto se busca... – Explicou Catarina.

              - Tudo bem... Mas devo dizer que fogo se combate com fogo e luta se vence com luta... – Falou Rosa.

              - Como assim? O que queres dizer? – Perguntou Catarina – Nosso propósito aqui é buscar a paz que nossos maridos não conseguem.

              - Há várias formas de se lutar – esclareceu Rosa – Numa comédia escrita por Aristófanes, escritor da Grécia antiga, Lisístrata liderou uma greve de sexo entre as mulheres no intuito de dar fim à guerra do Peloponeso e seus maridos chegassem a um acordo, o que deu resultado. Podemos fazer o mesmo...

              A proposta inicialmente chocou as mulheres, mas aos poucos foram se acostumando com a ideia e passaram a aceitar como algo viável. Depois de um tempo de discussão, Rosa perguntou:

              - Então... Estamos de acordo? – Perguntou Rosa, enquanto observava as mulheres acenarem positivamente – Então, as senhoras se encarregam de conversar com suas amigas e nós, do movimento, nos organizaremos para convencer o maior número possível de mulheres a aderirem nossa causa. O acordo que sair daqui será o nosso vetor e a greve de sexo nosso instrumento de luta.

              - Então vamos começar... – Falou Catarina.

              Rosa pediu a uma de suas colegas de luta chamar Gerda, uma amiga sua que morava nas cercanias. Então começaram as discussões na construção do acordo. Quinze minutos depois do início das discussões já haviam chegado a uma conclusão definitiva. Agora, só faltava convencer os homens, de parte a parte, a aceitarem o que foi estabelecido por elas.

              O tempo de discussão das propostas foi o tempo necessário para que Gerda chegasse. As visitantes espantaram-se ao vê-la:

              - Mas... É uma prostituta – Diziam – Elas eram mulheres recatadas, de fino trato social e senhoras devotas da Igreja, mas que conheciam a afamada dama que acabara de chegar.

              Então, Rosa tratou de esclarecer:

              - Se fizermos greve de sexo, a quem vocês pensam que seus maridos procurarão? Aliás, vocês bem sabem que boa parte deles já o faz assim mesmo. Precisamos do apoio delas se quisermos obter sucesso em nossa luta.

              As visitantes aceitaram os argumentos de Rosa e perceberam que a ajuda de Gerda seria de grande valia, além de começarem a ver com outros olhos a figura que estava à frente.

              Então Rosa explicou a situação à Gerda e a deixou a par da greve de sexo que haviam planejado, obtendo dela a promessa de as “casas de tolerância” fechariam por quinze dias, a princípio, ou o tempo que durasse a greve. Gerta era uma líder entre as prostitutas e poderia conseguir a adesão de suas colegas de profissão.

              - Mesmo que não fosse por uma causa justa, teríamos que aderir à greve por causa dos prejuízos que nos tem causado como cidadãs, além dos prejuízos profissionais, pois sem produção não há dinheiro e, sem dinheiro, nosso rendimento cai muito. – Explicou Gerta.

              Cinco dias depois desta reunião, os homens assinaram o acordo da forma como as mulheres haviam acertado.




LIÇÕES DA MESTRE


              Rosa de Luxemburgo foi uma ativista política de esquerda que, embora tivesse ligação com o marxismo, possuía ideias independentes em relação às lideranças socialistas, como Lênin, por exemplo. Era contra a centralização do poder por parte de uma chamada “administração esclarecida” que conduzisse os ideais socialistas e os trabalhadores, pois como disse: "o ultracentralismo defendido por Lênin aparece-nos como impregnado não mais de um espírito e criador, mas sim do espírito do vigilante noturno". A revolução, portanto, não deve ser algo “fabricada artificialmente” ou “decidida pelo abstrato”, mas como fenômeno histórico baseado numa situação social a partir da necessidade histórica. Em outras palavras, a revolução deve brotar de um sentimento social e não de uma sala de reuniões. Rosa de Luxemburgo ensina que não devemos ficar escravos do pensamento das lideranças que nos cercam e que a luta deve ser primeiro de esclarecimento do sujeito, pois revolução se faz com sujeitos, não com objetos. Defendia a ideia de Marx de que a transformação não deveria partir do meio em que se vive, como queriam os materialistas franceses, nem da consciência das pessoas, como queriam os idealistas alemães, mas da confluência de ambas, em que a consciência de classe transforma o ambiente e o ambiente externo se torna parte de uma nova consciência coletiva que surge a partir da luta. Rosa de Luxemburgo mantinha uma postura crítica à violência revolucionária e defendia a democracia do proletariado nas decisões sobre os rumos a serem tomados, pois defendia, sobretudo, a liberdade em seu mais alto grau, que é a de não apenas decidir, mas participar. Em 1914, seu partido, o Social-Democrata, votou a favor da Alemanha entrar na guerra e Rosa se posicionou contra por ver nesta situação a morte de milhares de trabalhadores em nome da guerra, então escreveu: "A demênica não terá fim, o sangrento pesadelo no inferno não vai parar até que os operários da Alemanha, da França, da Rússia e da Inglaterra despertem de sua embriaguez, se apertem traternalmente as mãos e afoguem o coro brutal dos agitadores belicistas e o grito das hienas capitalistas no poderoso grito do trabalho - 'Proletários de todo mundo, uni-vos!". Neste período, Rosa de Luxemburgo foi presa e, mesmo na prisão, continuou sua luta em nome da liberdade. Em 1918, saiu da prisão e foi lutar junto ao recém fundado Partido Comunista Alemão. Em 1919, foi morta por um grupo paramilitar que agira em nome do governo social-democrata.




Na Pista da DJ Rosa de Luxemburgo


              Além de Fábrica, música exposta no início, outras músicas da Legião Urbana, como “Geração Coca-Cola”, entrariam na coletânea de Rosa de Luxemburgo, pois nesta música está escrito: “...Vamos fazer nosso dever de casa e aí vocês vão ver suas crianças derrubando reis, fazer comédia nos cinemas com as suas leis...”

              Também teria “Rosa de Hiroshima” que casualmente tem Rosa no nome e fala contra a guerra e seus efeitos devastadores, tal como um dia Rosa de Luxemburgo foi contra.

              Músicas de cunho social como “Operário” de Chico Buarque, que seria a atração principal, e “Operário em Construção”, de Vinícius de Morais, seriam constantes na discoteca da DJ Rosa.


              A festa chegaria ao fim com todos cantando: “...Vem, vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”

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