sábado, 14 de maio de 2016

ARISTÓTELES E O BEM VIVER




Viver é equilibrar



"Viver...
e não ter a vergonha
de ser feliz.
cantar e cantar e cantar
a alegria de ser um eterno aprendiz."

(Gonzaguinha)



Aristóteles


"A educação tem raízes amargas, mas seus frutos são doces"


     Alexandre, o Grande, estava longe demais de casa. Olhou para seu destemido exército, que neste momento se encontrava descontente pelo tempo longe de seus familiares. Veio-lhe à mente o tempo de criança e os ensinamentos de um mestre em particular: o filósofo Aristóteles.

     - Por que eu tenho que ficar aqui, se meus amigos estão lá fora brincando? – Perguntou o pequeno Alexandre, avistando outras crianças pela janela.

      - Irás brincar em seguida, meu pequeno senhor – Disse Aristóteles – Primeiro, quero que penses no universo. Veja como cada coisa está em seu devido lugar... Com a sociedade acontece o mesmo. Aqueles meninos e meninas não são Alexandre e por isso não devem se preocupar em se preparar para resolverem assuntos que no futuro Alexandre terá que resolver. No futuro deles não existe um reino para administrar, mas no seu futuro, tal situação é uma imposição do destino. 

       - Então quero um bom reino para governar... O que deve haver para um reino seja bom? – Perguntou Alexandre.

       - Harmonia... Um reino de bons cidadãos formam um bom reino, com cada cidadão fazendo o que lhe cabe dentro da célula social. É por isso que você está aqui, preparando-se para exercer a monarquia, porque será rei, enquanto outros serão soldados, artesãos, comerciantes... Por isso, penso que a Aristocracia seja a melhor forma de governo, pois no governo devem estar os melhores. Reúna os melhores conselheiros em torno de si para tomar as melhores decisões.

       - Para se fazer um bom reinado, o que um monarca precisa? – Perguntou Alexandre.

       - Equilíbrio! O caminho do meio é o caminho da sabedoria, o que chamo de justa medida. Aliás, assim deve acontecer também na vida. Quer um exemplo? O que acontece se salgo por demais a comida? Ficará saborosa?

       - Ficará intragável – Disse Alexandre.

       - E se por acaso eu deixar sem sal... – Continuou Aristóteles.

       - Ficará sem gosto – Completou Alexandre.

       - Pois bem, a comida só ficará boa se for temperada na medida certa e é assim que todos devem viver e, no seu caso, reinar, como futuro monarca. 

       - Como saberei qual a dosagem certa? Eu não sei, por exemplo, temperar a comida... Refletiu Alexandre.

       - É por isso que está se preparando para ser rei – respondeu Aristóteles sorrindo – Daquelas crianças que estão lá fora brincando, provavelmente uma delas será seu cozinheiro, que aprenderá o ofício no momento oportuno. Já a sua educação, pequena majestade, requer mais tempo pela importância da função que irás cumprir, por isso estás aqui a se preparar para tal função. A virtude não é algo que temos por natureza, mas algo que treinamos para ser parte de nosso caráter.

        - E por que tudo isto? Por que é importante praticar a virtude? – Perguntou Alexandre.

        - Tudo o que fizermos em nossa vida será em busca de um único objetivo, a felicidade, pois não há nada além dela, é o fim último de nossas ações. – Respondeu o mestre.

        - Pois eu estaria bem feliz se estivesse lá brincando com os meus amigos. – Falou Alexandre ironicamente. 

        - Isto é prazer, meu pequeno. Momentos de gozo não significam exatamente uma vida feliz; já disse que daqui a pouco estará brincando com eles, pois tudo tem seu tempo. A felicidade plena só chega com a prática da virtude. – Respondeu Aristóteles.

        - Como saber o que é e o que não é virtude? – Quis saber Alexandre.

        - O que você mais admira em um soldado? – Perguntou Aristóteles.

        - A coragem! – Respondeu convicto o educando.

        - Disseste bem, a coragem é uma virtude a todos, mas é primordial para um soldado. É exatamente por isso que o soldado treina para obtê-la. O que acontecerá, majestade, se um soldado bravamente se lançar à frente de sua tropa, sem nenhuma proteção?

        - Com certeza, morrerá! – Sentenciou Alexandre.

       - Neste caso, este soldado não praticou a coragem, mas a temeridade, que não é uma virtude, mas um vício por excesso. Sua ação temerária não foi sábia, pois usou a coragem em excesso e morreu por isso. Agora, façamos um exercício ao contrário. Digamos que um soldado se esconda atrás das tropas e, no momento oportuno, fuja da batalha. É ele um soldado corajoso?

          - Claro que não, é um covarde! – Respondeu Alexandre.

          - Pois bem, a covardia é a falta de coragem. Tanto pecar por excesso, quanto por falta, torna um cidadão sem virtude. 

Alexandre ficou pensativo olhando as crianças pela janela quando foi interrompido pelo seu mestre:

          - E quanto a Alexandre, que tipo de imperador quer ser? – Indagou Aristóteles.
          - Quero ficar na história como o maior de todos os imperadores, maior até que meu pai. Eu quero a glória!

          Conhecendo o espírito bélico de seu pupilo e a cultura da conquista de seu povo, Aristóteles entendeu o que ele quis dizer com “ser grande”…

          - Há várias formas de ser grande, majestade, assim como várias são as formas de ficar grandemente na história. Conquiste o coração do povo, pois talvez esta seja a melhor virtude de um rei.

          - Esta é a minha ambição… Por falar nisto, ambição é uma virtude, não é? – Perguntou Alexandre.



          - A ambição é um desvio por excesso da prudência que, neste caso, é a virtude correspondente, tendo como vício por falta a moleza ou apatia. A realeza não tolera a apatia e, tampouco, a ambição, que pode levar à perdição, então o bom rei, assim como o bom cidadão, deve ser prudente em seus desejos. Não se esqueça disso, meu pequeno... Agora, vá brincar com seus amigos. – Ordenou Aristóteles, enquanto observava o garoto bater a porta.

          Agora, Alexandre, já imperador e ainda jovem, conquistara boa parte das terras conhecidas no mundo. Lembrava-se de que sua ambição desmedida o trouxera até ali e arrastara consigo seu bravo exército, formado por homens que deixaram para trás mães, pais, filhos, esposas..., em busca da glória. Alexandre tornara-se realmente grande para a história, mas agira como aquele soldado que se lança temerariamente contra o inimigo, pois as terras longínquas lhe apresentaram a febre que agora tomava sua vida. Já não havia mais honra em olhar nos olhos de seus comandados. Pensou consigo que talvez precisasse ter dado mais ouvidos sobre o que Aristóteles tinha a dizer quando ainda criança, assim estaria se preparando melhor para a função a qual estava destinado exercer. Seria um monarca mais presente na vida de seu povo e, quem sabe, um cidadão mais feliz.



LIÇÕES DO MESTRE


          Contrariando seu mestre Platão, Aristóteles acreditava que a virtude não existe naturalmente em nós, ela deve ser ensinada, treinada e cultivada. Não é algo a ser despertado, mas alcançado através da prática. Assim, tal como um profissional fica melhor em sua área de atuação na medida em que treina o ofício, cada sujeito deve treinar para ser virtuoso, pois praticar o bem continuamente é o caminho para ser bom. E por que praticar a virtude? Para Aristóteles, o fim último da vida, o objetivo final, é alcançar a felicidade que, por sua vez, só pode ser alcançada através da prática da virtude. E o que é virtude? Virtude é a prática do bem, que é o meio-termo, o equilíbrio. A pessoa ambiciosa, por exemplo, perde-se em sua própria ambição, pois passa a viver nela e não para si mesma, perdendo o domínio e o auto-controle, sendo escravo daquilo que ambiciona. Do mesmo modo, esta pessoa não pode viver na moleza ou na apatia, pois não alcança seus objetivos e, com isso, não consegue ser feliz. Os extremos são caminhos tortuosos; então, neste caso, a virtude é a modéstia, o meio-termo entre a ambição e a apatia, pois como nos ensina o mestre: "A sabedoria está no meio".



              Na Pista do DJ Aristóteles


            Se Platão busca a felicidade num outro mundo, Aristóteles quer ser feliz aqui. Então, na pista do Dj Aristóteles as músicas executadas tratam desta busca, sempre de forma equilibrada.

             Então, estarão no repertório músicas sertanejas que falam da vida no campo, tais como "Vida Boa" de Renato Teixeira que diz: "Tenho no quintal, uns pés de fruta e de flor, e no peito por amor plantei alguém..."

               E também muitas das do samba de raiz que tratam desta felicidade, tal como "Não deixe o Samba Morrer", de Edson Conceição e Aloísio Silva, que diz: "Eu vou ficar no meio do povo espiando a minha escola, perdendo ou ganhando, mais um carnaval." 
  
                Pode-se incluir também a música "Quando a Chuva Passar" de Ramon Cruz, lançada por Ivete Sangalo, que diz: "quando a chuva passar, quando o tempo abrir, abra a janela e veja eu sou o sol, eu sou o céu e mar, eu sou céu e fim, e o meu amor é imensidão..."

                O forró não poderia ficar de fora, pois a alegria é uma de suas temáticas. A música "Rindo à toa", da grupo Falamansa, nos convida a procurar a felicidade mesmo em momentos difíceis, quando diz: "toda a mágoa que passei é motivo pra comemorar, pois se não sofresse assim, não teria razões pra cantar...". Em outras palavras, deve-se fazer de um limão, uma gostosa limonada.

                 As estrelas da pista do DJ Aristóteles se dividem entre Renato Teixeira, para os mais reflexivos, e cantoras como Ivete Sangalo e Cláudia Leite, para os mais festeiros, num trio elétrico com grupos de forró e axé. 


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