Esta é uma representação de um diálogo possível
sobre Política.
ARISTÓTELES: O homem é um animal político
e só tem sentido quando inserido em sociedade. Diferentemente de outros
animais, o homem tem a capacidade de compreender o justo e o injusto, pois
possui a racionalidade como condutora de uma vida virtuosa não só individual,
mas coletiva. Somente na vida social o homem pode atingir a plenitude de seu
ser, assim, a democracia da polis depende de cidadãos livres e autônomos.
Existem três tipos de governos: Democracia, que pode se desvirtuar para a Demagogia;
Aristocracia, que pode se desvirtuar para a Oligarquia; e a monarquia, que pode
virar uma tirania. Portanto, o governante deve ser virtuoso.
EPICURO: Você, Aristóteles, viveu numa
Atenas que dava respaldo à sua teoria. Com o avanço de Alexandre Magno e sua
política monarquista no lugar da democracia ateniense tudo se transformou. O
homem grego de meu tempo não tinha mais a liberdade e procurava novas formas de
encontrar a felicidade. Assim, entendi que o homem não precisa de razões
exteriores a si para ser feliz, podia ser feliz por si mesmo através da paz de
espírito e tranquilidade. Isto se consegue não através da busca da justiça, mas
através da amizade. O homem deve afastar-se das coisas da política e da
sociedade para ter maiores chances de felicidade.
NIETZSCHE: Concordo! Os filósofos
genuínos deveriam abster-se do debate político e permanecer um pouco afastados,
até porque, o Estado geralmente vê o filósofo como inimigo. O ser com furor
filosófico não tem tempo a perder com o furor político, pois este é um
desperdício de espírito, deve ser visto como um simples divertimento, tanta é
sua falta de importância. Ao filósofo de espírito livre deve ser imposto o
seguinte mandamento: “não farás política!”. A formação de Estados requer poder,
aparecendo de um lado, alguém que manda e, de outro, os que obedecem. A
massificação é inevitável e o sujeito é controlado, se não por uma ditadura,
por um conjunto de leis.
SÊNECA: Vivi numa Roma Imperial e ajudei
Nero em seu início de governo. Fui perseguido por seus antecessores Calígula e
Cláudio porque eu representava força no Senado Romano, de quem estes não
gostavam de dividir o poder. Inicialmente, consegui que Nero ouvisse o Senado,
pois vejo a política como divisão de atribuições, depois, também ele se
desviou. Um bom imperador produzirá um bom povo e seu reinado deve ser administrado
sob a batuta da sabedoria, assim, o governante dá liberdade e justiça aos
súditos que o mantém como governante. Este é a alma e o povo é o corpo.
MAQUIAVEL: Eu vejo que o governante deve
fazer de tudo para manter o seu poder, pois os fins justificam os meios.
Discordo de Aristóteles quando alia governo com a virtude. A moral e seus
valores devem passar ao largo da forma de governar porque elas limitam as ações
de quem governa. A ação do governante deve dirigir-se pela objetividade, pois
nas questões de Estado há virtudes que, para a sociedade representam vícios e o
que importa, para o governante, é manter
a estabilidade social a todo custo.
SÓCRATES: Contrário a Nietzsche e Epicuro,
penso que a vida em sociedade inevitavelmente nos leva à participação, mesmo
quando recusamos. A maior qualidade de um governante é a sabedoria e, por isso,
o sábio é quem deve conduzir a política. É dever do cidadão participar, através
do diálogo, da vida da cidade, para não se deixar dominar por ideias de outrem,
sem ao menos refletir sobre a melhor maneira de se dar a convivência social. Só
um cidadão participativo e reflexivo pode conhecer a verdade, o que impedirá de ser um marionete nas mãos do
poder.
PLATÃO: Penso que as crianças deveriam
ser separadas das mães para serem educadas por uma instituição, pertencendo ao
Estado sua educação. Ao chegar aos vinte anos, aquelas que não tiverem
habilidades próprias dos guerreiros, nem grande sabedoria, se tornariam
artesãos, camponeses, comerciantes, etc..., dedicando-se a tarefas menos
nobres. Aos trinta, deveriam ser separados aqueles sem grande sabedoria e já
treinados para a defesa do Estados, a fim de serem soldados. Os que sobrarem,
serão preparados para o exercício do governo até os cinquenta anos e serão os
mais sábios. Se esta estrutura fosse representada pelo corpo humano, o primeiro
grupo seria o abdômen, o segundo, representando a força, seria o tórax e, o
terceiro, a cabeça, que deve comandar os dois outros através da razão.
PROTÁGORAS: Penso que a democracia seja a
melhor solução, pois cada pessoa tem sua opinião sobre os assuntos da vida
social. O conjunto de opiniões que forma uma maioria deve prevalecer sobre as
outras opiniões minoritárias ou mais fracas. Portanto, deve-se exercer a arte
do convencimento para que uma opinião forme este “discurso forte”, vencendo os
discursos contrários.
ROUSSEAU: O homem é livre em sua
essência, mas esta liberdade é relativa no corpo social, pois convive com
outras liberdades. Penso que deva haver um contrato social, onde as
individualidades dão direito a um terceiro, o governo, de legislar. Neste
contrato, a soberania pertence ao povo, à vontade geral. O governo serve como
corpo intermediário da vontade do povo. A lei expressa a vontade geral,
garantindo a justiça e a liberdade. O legislador manda nas leis, não nos
indivíduos. Por fim, a política é exercida em vista do bem comum, acima dos
interesses particulares.
HOBBES: Penso que o contrato social seja
inevitável, pois os homens nascem competitivos e precisam da força do Estado
para controlar seus instintos. Discordo de Aristóteles quando diz que o homem é
naturalmente sociável. Não condiz com a verdade, pois vê o outro como
concorrente, sendo a união movida por interesses. O homem fica entre o seu
instinto natural e a obrigação racional da convivência, fazendo com que o
contrato social seja a única saída. Deste modo, a monarquia é o melhor modelo
de governo, pois o monarca legisla com a obediência de todos. Neste contrato, o
indivíduo renuncia seu direito natural, de razão e liberdade, e o entrega a um
terceiro, a quem chamo leviatã, o soberano.
SARTRE: Em minha época, pós-revolução
industrial e pós-guerras, houve o aparecimento da guerra fria, que representava
o debate ideológico entre o capitalismo, baseado no mercado de capital de livre
comércio, inspirado no liberalismo econômico; e o comunismo, inspirado nas
ideias marxistas da luta classes para uma maior distribuição de renda. Fiquei
do lado desta última por entender estar mais próximas do existencialismo, pois
a liberdade é antes humana e depois econômica. Penso que o filósofo deva ser um
engajado político sim e agir no meio do povo.
AGOSTINHO: Assim como há um reino de
justiça pós-vida, deverá existir aqui também este mesmo reino, para que haja
concórdia entre as pessoas, ou seja, a paz celestial deve ser reproduzida
através da paz terrena. Este bem conviver está prescrito por Jesus através do
mandamento “amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a si mesmo”. O
homem é um peregrino na terra e deverá buscar nesta pátria terrena a maior
proximidade possível com a pátria celestial.
KANT: O fim último da humanidade é a
constituição da forma política perfeita, alcançada pelo exercício da paz e a
supressão da guerra. Por isso, sou contrário à ideia de exércitos oficiais e permanentes,
a favor apenas na montagem de grupos de cidadãos em momentos de crise para
resolvê-las. Discordo de Platão de que deva haver preparação de guerreiro, pois
o Estado não tem o direito de dispor da vida do indivíduo que obrigatoriamente
o tenha que defender. É uma injustiça e uma irracionalidade. Homens não podem
pôr-se a matar e serem mortos, pois assim como o Estado não tem a vida dos
cidadãos a seu dispor, também um indivíduo não a tem sobre outro.
DESCARTES: Concordo com Sêneca e Epicuro
no que tange à tranquilidade social como meio de viver a boa política. Assim,
discordo de Protágoras, não pela ideia do discurso forte, pois este surge
naturalmente, mas na ideia apresentada por Protágoras de que precise haver um
embate entre as diversas formas de pensar. Este embate traz inconstância social,
que é avessa à tranquilidade que apregoo. Penso que as coisas se acomodam em
sociedade; então, o melhor é aceitar as decisões do governante; seria a melhor
forma de ajuda-lo a governar, não criando crise, pois ele também precisa de
tranquilidade para exercer o bom governo.