sábado, 19 de outubro de 2013

O banquete: Um Debate Possível Sobre o Conhecimento

                            Eis que inicia-se o debate!
                   Os filósofos debatem sobre o conhecimento:

PLATÃO: Devemos partir do princípio de que somos corpo e alma. Quando a alma chega ao corpo, descendo ao mundo sensível, ela esquece as coisas boas do mundo das ideias, é contaminada pelas sensações e por isso, se torna passível a enganos. Assim, o conhecimento só existe no mundo das ideias, pois o mundo sensível é o mundo das aparências, para conhecer a verdade das coisas e ter conhecimento é tarefa da educação. Cabe à educação lembrar a alma.

AGOSTINHO: Penso que a razão ajuda o homem a alcançar a fé que, por sua vez, orienta a razão. Temos duas razões: a inferior e a superior. A razão inferior trata de conhecer o sensível, o que é mutável e científico. A razão superior, por sua vez, trata do que é da fé, da alma, da sabedoria e das coisas imutáveis.

DAVID HUME: Pois eu penso que todo conhecimento vem das experiências e são os sentidos que as vivem, a razão apenas racionaliza, cataloga e distingue as coisas. Não existe o tal mundo das ideias porque não existe conhecimento a priori. Todo conhecimento é a posteriori, pois primeiro tudo deve ser vivido e uma prova disso é que não podemos prever o futuro.

DESCARTES: Pois eu vejo que o conhecimento se adquire através do método cartesiano. Parto do princípio de que deva haver uma regra rígida que retire tudo o que se possa duvidar para não haver enganos. De tudo duvido, até mesmo de minha existência, já que minha existência pode ser fruto de algo imaginário. Neste caso, existe uma coisa da qual eu não posso duvidar: a de que eu duvido, e se eu duvido, eu penso. Então, se penso, eu existo.

DAVID HUME: Você só pensa as coisas porque antes as vivencia.

DESCARTES: Eu não preciso colocar fogo num papel para saber que ele vai queimar.

DAVID HUME: Com certeza você sabe por que já viu ou já experienciou em algum momento anterior. Nada há o que a gente conheça que não tenha passado pela experiência.

DESCARTES: Somente a razão pode ser um meio seguro de conhecimento, pois retira tudo o que é duvidoso ou possa iludir os sentidos e fica apenas com o rigor do que é certo.

KANT: Penso que existe duas modalidades de conhecimento. Temos alguns conhecimentos que são a priori, principalmente os ligados ao instinto e outros a posteriori, alcançados tanto pela experiência, quanto pela razão, como aqueles que aprendemos na escola por exemplo.

ARISTÓTELES: Sempre discordei da dualidade platônica, penso que corpo e alma estão juntos em um mesmo ente. O ser humano é formado por corpo e alma e ambos têm cada qual sua parcela na aquisição do conhecimento. Contudo, o verdadeiro conhecimento vem da experiência, cabendo à razão governar e dominar as paixões. Em suma, como afirmou David Hume, não há nada na mente que não tenha passado pelos sentidos.

NIETZSCHE: Não é do conhecer que precisamos, mas do conhecido, não temos vontade de saber, mas medo do não-saber. O desejo do conhecimento não vem da nossa natureza, mas sim da busca do sentimento de segurança. Não gostamos do desconhecido. Não é a vontade de conhecer que nos atordoa, mas a agonia do que é estranho, inseguro e inabitual.

HERÁCLITO: O inabitual é o devir e o logos (razão) nos prepara para ele.  Aprendemos com as mudanças e o que sabemos vem do conflito entre os contrários. O contrário faz com que sabemos, por exemplo, sobre o que é o quente e o frio.

PARMÊNIDES: Isto são apenas sensações que permanecem! O quente sempre será quente e o frio sempre será frio! O pensamento não pode raciocinar sobre coisas que ora são de um jeito e ora de outro, que são contrárias a si mesmas e contraditórias.

HERÁCLITO: No entanto, você só conhece o frio porque conhece o quente.

ROUSSEAU: Penso que os homens devem aprender para serem livres. Permanentemente, como diz Parmênides, temos dentro de nós, em estado selvagem, uma natureza boa que deve ser mantida mesmo depois que a luta pela sobrevivência na sociedade competitiva se fizer necessária. Mas tudo pode mudar, como afirma Heráclito. Não podemos nos deixar levar pelo espírito do egoísmo que permeia a sociedade e caberá à educação este papel.

THOMAS HOBBES: Caberá à educação sim, trazer conhecimento. Mas ao contrário de Rousseau, penso que o indivíduo nasce mau e com espírito egoísta e é a sociedade que, através de mecanismos educacionais, o corrige.


SARTRE: O homem não deve aprender a ser livre porque ele já nasce livre, o que quer dizer que as ideias, ou as essências, não são anteriores às coisas, pois não se acham previamente contidas nem na inteligência de Deus nem na inteligência do homem, elas são contemporâneas e se aprende conforme se vive. Não existe conhecimento prévio.

PROTÁGORAS: Também não existe a possibilidade de conhecimento pleno, pois o homem não tem capacidade, nem alcance intelectual para conhecer a totalidade das coisas. Assim, apenas o conhecimento parcial é possível.


SÓCRATES: É possível sim o conhecimento pleno e este deve ser descoberto na própria alma: Conhece-te a ti mesmo, este é o primeiro passo. Dar-se conta da ignorância é primordial para a busca do saber e a constante dúvida é um método que deve ser seguido até que não haja mais nenhuma pergunta a ser feita sobre algo, como apresentou antes Descartes. Quando se sabe o que é a verdade, a coragem, a virtude, o belo, etc., chegamos ao conhecimento.

NIETZSCHE: E quem faz este processo? A razão? Vamos matar a verdadeira fonte do conhecimento que é o sentir? Não há nada mais formidável que sentir a brisa, o toque, o sol, a água... Daí provém o que conhecemos.

SÓCRATES: Não são invalidadas estas sensações, podemos usá-los como meios para chegar ao verdadeiro conhecimento. Um General poderá vencer diversas batalhas, mas se não souber o que é a coragem não conhecerá o suficiente, assim como um rei pode ser  adorado por diversos súditos, se não souber o que é sabedoria não conhecerá o suficiente.

NIETZSCHE: Sua teoria parte de um princípio errado: transforma o sentir, que é a principal fonte do conhecimento em um simples “meio” de adquiri-lo, um objeto, quando na verdade é o sujeito.

PROTÁGORAS: O homem é a medida de todas as coisas, das que são, enquanto existem, das que não são, enquanto não existem. Assim o conhecimento é parcial e relativo a cada ser pensante, ele se dá pela percepção do fenômeno sem que se possa separar a sensação do pensamento.

HUSSERL: Toda consciência é consciência de algo. Tudo o que sabemos é um fenômeno, que é aquilo que se apresenta a nós. Todas as vivências se dão pela consciência buscando-se uma análise compreensiva e não explicativa do mundo. Portanto, as coisas não devem ser explicadas e sim compreendidas, assimiladas pelo sujeito que observa o objeto e se transforma com esta experiência.

AGATÃO: Foi um belo debate, espero os senhores para um próximo.

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