terça-feira, 8 de outubro de 2024

A Cura

 Sei não... Diz-se que a escuridão é tão somente a ausência de luz, que as trevas em si não existem. Este é um princípio em que Santo Agostinho se baseou para explicar a presença do mal no mundo, uma vez que Deus, sendo bom, não poderia ser seu criador.

Santo Agostinho explicou que o mal seria resultado da escolha pelo afastamento das coisas de Deus, tal e qual a luz se afasta de um ambiente. Sempre que nos afastamos do que Deus quer o mal aparece. Por exemplo: Deus criou o amor... Sempre que praticamos algo que contrarie um ato de amor, estamos na verdade nos afastando de Deus e daquilo que ele criou, que é bom, tal como a luz e seu efeito na escuridão.

Assim, um ato de violência nos afasta da paz,

O ódio nos afasta do perdão,

A discórdia nos afasta da concórdia...

E quanto aos males que independem de nossas ações, tal como uma doença?

Isto também seria um afastamento, uma vez que a normalidade estaria na saúde e não na doença, que seria uma anomalia. A volta à normalidade, portanto, seria a cura através do tratamento.

O certo é que não queremos o mal... Isto é uma convenção universal. E serve também como princípio norteador àquelas pessoas que julgamos más segundo nossos princípios. 

A ideia do bem nos persegue, como ensinou Aristóteles, pois todos guardamos conosco e somos atraídos pelo que é bom e justo, ainda que estas concepções difiram de pessoa para pessoa. Para Platão, esse anseio vem da alma.

A cura é a volta à luz para as doenças da alma, e a volta à saúde para as doenças do corpo.

A cura é, portanto, um caminho de volta.

Os Desejos e arbitrariedade do controle


"Neste mundo há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos nossos desejos, e a outra a de a satisfazermos."  (Oscar Wilde)


Sei não... Epicuro afirmou que o desejo é a causa de todos os males, pois, como não conhecemos o amanhã, com seus acontecimentos, se os desejos irão ou não se realizar, seria uma perda de tempo deixar de gozar os prazeres possíveis esperando o talvez ou o impossível acontecer.

A lógica é a de que gozar pequenos prazeres no tempo presente é melhor que esperar o grande desfrute acontecer num tempo futuro. Para Epicuro, esperar pelo futuro, despendendo energia nele, necessariamente é abrir mão de viver o presente com a intensidade devida.

Epicteto, o escravo, falou: "Desterra de ti desejos e receios e nada terás que te tiranize", afirmando que somos escravos dos desejos e medos, de quem devemos nos livrar.

Buda, Shopenhauer, Sócrates e outros seguem esta linha de pensamento. Benjamim Franklin chega a dizer que, mesmo realizados, os dsejos trariam mais aflições que prazeres.

Contrariando esta tese dominante, de que os desejos devem ser contidos, Jonathan Swift ressalta: "O método estoico de enfrentar as necessidades suprimindo os desejos, equivale a cortar os pés para não precisar sapatos".

Swift, com isso, afirma que o controle ao desejo é tão prejudicial a nós quanto os ditos males advindos do ato de desejar, pois isto significa contrariar a natureza humana, o que causaria mal em igual teor.

Os filósofos citados anteriormente apresentam a razão como meio de suprimir o que para eles é a fonte da infelicidade, que é o desejo, já Swift é partidário da liberdade emocional, lugar em que os sentimentos se sobrepõem  à razão.

Oscar Wilde coloca-se entre duas formas de ver a questão e nos traz mais uma angústia a respeito do tema: "Neste mundo há apenas duas tragédias: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, e a outra de os satisfazermos."

É... Não tem saída...

Podemos desejar, mas não a ponto de tornarmos escravos dele, e controlá-los, mas não a ponto de tornarmos escravos do controle.

O Vazio Existencial e a Criança que Procura




"De meros vazios se constrói o recheio da existência humana." (Hugo Hofmannsthal)

Sei não... É comum as pessoas falarem sobre o vazio existencial... No entanto, o que as pessoas na verdade estão sentindo não é um vazio, é antes uma procura sem sucesso.

Explico: As pessoas na verdade estão cheias, tão cheias que não encontram o que querem dentro de seus baús existenciais, tamanha bagunça e fastio.

Uma criança, afortunada por tê-los, vai até sua caixa de brinquedos à procura de algum brinquedo  específico. Enquanto procura por aquele que quer, vai remexendo nos outros brinquedos, colocando uns de lado, tirando outros para fora da caixa, afasta para cá e para lá...Se distrai com o processo e, ele próprio, vira uma brincadeira em si. Por vezes a criança chega a esquecer do brinquedo que queria ao pegar um outro que lhe chama a atenção.

Não existe vazio existencial em uma criança que procura.

Não existe vazio existencial para quem se diverte ou se distrai enquanto procura aquilo que deseja encontrar em seu baú abarrotado.

Procure como uma criança!


segunda-feira, 7 de outubro de 2024

As Redes Sociais


 Sei não... As redes sociais assumiram, por permitirmos, não que necessariamente mereçam, grande importância em nossa vida. Uma prova dessa importância é a de que a sua leitura deste texto está ambientada em uma plataforma digital.

Não se trata aqui de demonização das redes, mas sobre a influência delas na vida social, que nada mais é do que um reflexo de nossa conduta individual. 

Certa feita, em uma parada de ônibus ouvi uma senhora falando para outra sobre uma terceira e o quanto estava desgostosa com esta última. Mas não "deixaria barato", iria castigá-la... iria bloquear a antes amiga e agora desafeta de uma de suas redes sociais. Via neste bloqueio o castigo adequado ao tamanho da ofensa sofrida.

Além desta forma de lidarmos com as redes, há que se refletir sobre o fato de muitas das plataformas imitem a conduta social ao permitir que tenhamos vários perfis e páginas. Nós as temos na vida pessoal também... e as usamos conforme as situações. Nossos perfis e páginas nas redes, não diferem de nossos perfis e páginas na vida. Quando estamos fatigados de um, trocamos para outro, até o ponto em que nos deparamos com situações em que não há como trocar o perfil ou a página como acontece nas redes digitais...

De alguma forma, na vida real, nos deparamos com o fato de que nem sempre é possível bloquear,  tampouco simplesmente virar a página ou trocar perfil. Às vezes faz-se necessário enfrentar o problema. E aí reside o problema... ou a solução. 

sábado, 5 de outubro de 2024

O valor do ócio

 Sei não... Dizem que as pessoas buscam a felicidade. Dos gregos antigos a Betham a felicidade é vista como o objetivo último a ser alcançado. 

Talvez o que precisamos mesmo é do ócio. 

Bom, Aristóteles, um dos pregadores da felicidade como fim último da vida, determinaria o ócio como caminho possível para chegar a este objetivo.  Nesse caso, o ócio seria um mero instrumento para um bem maior.

O ócio em si, mesmo sendo caminho para outros fins, por vezes é o próprio objetivo, como é o caso do trabalhador que anseia pela aposentadoria. 

O ócio não é apenas um meio para se chegar à felicidade. Ele também nos leva ao prazer, a tranquilidade, à convivência familiar, aos amigos...

Muito se tem demonizado o ócio como causador de males, sendo a "oficina do diabo"

Para o bem ou para o mal, não há nada que proporcione mais ação do que no ócio.

.