sábado, 26 de abril de 2014

Por Enquanto (1)

Legião Urbana

Mudaram as estações (1)
E nada mudou (2)
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente (1)
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre (2)
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba (1)
Mas nada vai conseguir mudar
O que ficou (2)
Quando penso em alguém
Só penso em você
E aí então estamos bem  (2)
Mesmo com tantos motivos
Pra deixar tudo como está
E nem desistir, nem tentar
Agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa (2)

Esta música faz um jogo em que ora vê as coisas se modificando e ora as vê como permanentes. O eu lírico reflexivo olha a vida passando e se olha, as transformações pelas quais (não) passou, passando...
É a eterna briga entre Heráclito (1) e Parmênides (2), entre o transitório e o permanente.
Até na concepção o autor parece confuso sobre o que acreditar, pois o título, Por Enquanto, é heraclitiano e a última frase, parmenidiana.

Heráclito e Parmênides Numa Discussão Racial

Heráclito, como sabemos, defende que tudo é transitório; já Parmênides, que o ser é permanente e o que muda é apenas aparência.

Se levarmos para a discussão étnica e colocarmos, por exemplo, índios de um lado, e de outro lado, orientais (para fugir da dicotomia negros e brancos), teremos ser humano indígena e ser humano amarelo.
Pois bem, Heráclito neste caso valoriza o transitório, o que muda, ou seja, o fato de serem índios ou orientais.
Parmênides, por sua vez, valoriza o que permanece, ou seja, o fato de serem ambos seres humanos. Índio ou oriental são apenas aparências.

Ponto para Parmênides nesta discussão.

Um fenomenologista diria que ao olharem-se, índio e oriental, transformariam-se, cada qual, com esta esta experiência pegando um pouco de cada um. Neste caso estariam dando razão a Heráclito, mas esta é outra discussão...

Felicidade ou Prazer?

Se vive para ser feliz e para obter prazer em nossas ações?
Parecem a mesma coisa, já que o que nos torna feliz também é o que nos dá prazer e vice-versa, não é mesmo?
Então qual é a diferença, já que os eudemonistas, como Aristóteles e Santo Agostinho, são partidários da felicidade; e os hedonistas, como Epicuro, são partidários do prazer?

Uma diferença básica está na concepção de prazer dado pelos hedonistas como simples fuga da dor, sendo a não-ação por si só como algo que baste para estar bem. Assim, alguém que sofre dores renais, por exemplo, como Epicuro as sofria, quando não as sente atinge um estado ideal de bem viver que ultrapassa as fronteiras da felicidade, estando, portanto, além dela. Só sabe disso quem sofreu essas dores e encontrou alívio num Buscopam na veia, não é mesmo?
No entanto, a maior diferença está no fato de que o prazer é mais epidérmico, mais suscetível e intenso; ou seja, você consegue quantificar aquilo que está sentindo, enquanto que a felicidade é mais abstrata, mais vaga, pois você consegue perceber que algo te deixou bem (feliz), mas não consegue quantificar nem delinear exatamente o que sente.

Kama Sutra - Posições para apimentar o sexoGanhar um presente de aniversário, dependendo qual, te deixa mais ou menos feliz, mas você não tem um padrão sobre o que está sentindo.
Já um gozo sexual, por exemplo, você consegue saber o que sente, além de ser mais intenso.
Você pode até preferir, dizem os hedonistas, ganhar o presente, mas não há como negar que o prazer é mais intenso.
Além do mais, você trocaria qualquer presente, qualquer bem material, pelo alívio de uma dor intensa.

A felicidade, por sua vez é mais duradoura, sustentam os eudemonistas; e alguns bens imateriais, como o amor aos filhos, são maiores que qualquer dor que venha sentir, senão uma mulher não se disporia a  passar por todas as agruras de uma gestação e parto, se não fosse pela felicidade de gera-los.

A discussão segue...