quinta-feira, 14 de maio de 2015

Reunião de Filósofos 8 : Conhecimento

AGATÃO: Acredito que na questão do conhecimento as opiniões também sejam contraditórias. Afinal, a tarefa de conhecer cabe à razão ou surge da experiência?



DESCARTES: Partimos do princípio de que um conhecimento, para tratar-se como tal, deva ser verdadeiro, pois um elemento falso não pode possuir status de conhecimento. As sensações e emoções não têm a capacidade de adquirir tal estatura, pois são passíveis de enganos e só com o uso da razão se pode chegar ao conhecimento verdadeiro. Por isso proponho o método cartesiano, algo que não possa ser refutado, nem posto em dúvida. Assim, façamos o exercício de tudo duvidar: de Deus, deste diálogo, até mesmo de nossa existência; chegaremos a conclusão de que uma coisa não pode haver dúvida: a de que estamos duvidando. Ora, se estamos duvidando, estamos pensando; e se estamos pensando, obviamente estamos vivos; ou seja, existimos. E não é a experiência quem nos dá esta prova, mas o ato de pensar, que é próprio da razão; então, só a razão é que nos dá a certeza de que o conhecimento que nos chega é verdadeiro, pois o conhecimento que nos chega pela emoção é incerto.


DAVID HUME: Pois eu penso que todo conhecimento obrigatoriamente passa pela experiência. A razão nos dá noção, propicia cálculos mentais, mas a experiência retrata com fidelidade o conhecimento, pois os sentidos e as emoções são vivos e intensos, enquanto que a razão é abstrata, não é concreta, tornando o conhecimento idealizado, tirando sua capacidade real. A razão é, e só pode ser, escrava das paixões; só pode pretender ao papel de as servir e obedecer a elas. Não contraria a razão preferir a destruição do mundo inteiro a um arranhão no meu dedo, pois o que passa ao largo de meus sentidos, mesmo que grandioso, para mim é menos conhecido que algo pequeno que eu tenha vivenciado.

DESCARTES: Se tomarmos o eclipse solar e fiar-nos no que nos informa os olhos tão somente, chegaremos à conclusão que a lua é maior que o sol, pois o tapa totalmente, o que sabemos não ser verdade. É a razão quem nos informa sobre a distância, corrigindo um conhecimento falso dado pelos olhos, em um conhecimento verdadeiro.

DAVID HUME: Todavia, se eu lhe der um beliscão, é você quem conhecerá verdadeiramente a dor produzida, os demais presentes poderão ter apenas uma noção, uma abstração... 

KANT: Penso que ambos, razão e experiência, são meios de conhecimento, cada qual com sua importância. Existem conhecimentos a priori, que são aqueles conhecimentos pré-existentes em nós, como alguns instintos, por exemplo, ligados à razão, em que não precisamos passar por experiência para adquirí-los, pois nascemos com eles. Outrossim, existem os conhecimentos a posteriori, que são aqueles que adquirimos com a vivência, nascidos da experiência. 

SÓCRATES: Só sei que nada sei, e quanto mais sei, mais sei que nada sei. Este é o princípio de minha filosofia, pois parto da ideia de que a busca do conhecimento é o início de uma vida virtuosa, que aparece ao afastarmos da ignorância. Esta tarefa cabe à razão, pois a emoção nos deixa próximos dos mitos e dos falsos conhecimentos. É pela razão que refletimos o bem que há em nós e conhecer-se a si mesmo é o primeiro passo.

PLATÃO: Somos corpo e alma, o sensível e o inteligível. O verdadeiro conhecimento é o conhecimento da alma que, habitando o mundo das ideias conheceu o que é perfeito e imutável: a verdade, o justo, o belo... Já o conhecimento advindo das sensações podem nos levar a um falso conhecimento, pois são conhecimentos passageiros, sem a certeza que precisamos.


PROTÁGORAS: Não existem conhecimentos nem verdades imutáveis, meu caro Platão, pois tudo é relativo e o conhecimento se dá conforme cada ser pensante. Também não podemos conhecer tudo, pois nossa capacidade de conhecimento é limitada, assim, cada um possui a verdade que sua capacidade individual alcança, seja através das experiências, seja através da abstração racional.


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