segunda-feira, 4 de maio de 2015

Reunião de Filósofos 2 - Agir Político do Cidadão


AGATÃO: Falando em política, como os senhores pensam que deve ser o agir político do cidadão? Marx e Diógenes parecem ter posições contrárias pelo que pude observar.


Resultado de imagem para imagens de epicuroDIÓGENES: Tenho dois motivos principais para acreditar que o ser humano deva se afastar da política. O primeiro é que a sociedade ajustada em padrões é anti-natural, o que torna por si só hipócrita e, portanto, vulgar e indecente. Olhem para os cães! Vivem naturalmente abaixo da lua e do sol. A sociedade produz pobres e ricos e aceitar viver nela é aceitar esta indecência, tornando-se também um indecente. Não tenho casa, porque o chão me basta, querê-la é entregar-se à ganância e procurar meios para tê-la, é entregar a alma ao Diabo. Na casa de um rico não há onde cuspir a não ser na cara dele. Uma pergunta se impõe: como ficou rico? Como o governante conquistou o posto? O segundo motivo vem de minha atuação como filósofo, afinal, para que serve o filósofo senão para machucar o sentimento de alguém? Assim, a melhor forma de agir politicamente é estar distante dela, o que de certa forma é um jeito de fazer política; coloco meu cajado, meu barril, meu prato e minha lamparina a disposição da sociedade. Minha política é o exemplo, a recusa em participar desta imoralidade chamada sociedade.

MARX: A sociedade, caro Diógenes, também é fruto de um processo natural e digo que é até mais natural que a solidão que praticas. E mais que natural, é inevitável. Então, pergunto? Como o cidadão deve agir inserido nesta cirscunstância? A história da humanidade foi construída pela luta de classes e a dominação de uma sobre as outras. Então, o agir político deve ser voltado para a luta, para a constante vigilância da manutenção de direitos e para a conquista do espaço social. Sem estes aspectos, você se torna presa fácil de ideologias que tentarão te manter passível diante dos acontecimentos e prometerão ilusões.


PROTÁGORAS: Eu acredito na democracia, porque acredito na liberdade do pensamento e diferenciação entre as pessoas, pois somos diferentes uns dos outros e cada qual tem sua medida, seus limites... Que vença o discurso forte, que é aquele que convence a maioria de que a sua ideia é a mais apropriada para todo o conjunto. Portanto, a melhor forma de agir politicamente é se preparar, a fim de convencer pela oratória que o seu pensamento é o melhor para ser aplicado a todos.

PLATÃO: A melhor forma de o cidadão agir politicamente é exercer uma função dentro da sociedade segundo suas possibilidades e habilidades. Assim como no corpo cada orgão exerce um determinado papel, na sociedade cada cidadão tem sua atribuição, seja ela manual, como são os artesãos, agricultores, comerciantes e demais trabalhadores braçais; seja ela de defesa, como faz o soldado; ou de governança, que deve ser própria dos políticos, legisladores e administradores públicos. Todos devem ser preparados através da educação para estas tarefas desde jovens, em instituição de ensino comum a todos, onde lhes será ensinada a virtude.

SÓCRATES: Assim como Platão, acredito que o agir político deve estar conectado com a virtude, que só se encontra na verdade, que por sua vez encontra-se no conhecimento, que é a gênese do bom agir. Não interessa viver, mas viver bem. E viver bem é viver corretamente, não ser injusto com os outros, nem mesquinho, nem buscar para si vantagem indevida ou que prejudique o outro. Não praticar um discurso, como quer Protágoras, se o discurso não for verdadeiro; somente lutar, como quer Marx, se for para buscar a justiça; e afastar-se, como diz Diógenes, somente das práticas que levam à imoralidade pública.

ARISTÓTELES: Inicialmente, devo dizer que o ser humano é um animal político e ele só pode ser concebido desta forma, pois isolado, é como qualquer outro animal. Concordo com Sócrates e Platão sobre o fato de que a virtude deve ser o elemento norteador da ação política do cidadão que inevitavelmente estará com outros cidadãos. É preciso então trabalhar a formação deste ser humano. Uma sociedade de cidadãos virtuosos forma uma sociedade virtuosa e sã, já uma sociedade com cidadãos injustos torna-se uma sociedade decadente. Então, assim como Platão, acredito que a educação deva ser o caminho para formar cidadãos virtuosos…

NIETZSCHE: Blá, blá, blá… O homem com furor filosófico não deve perder tempo com o furor político. Vocês falam de virtude, em educação para a virtude, mas... qual virtude? Aquela escondida na verdade absoluta ditada por regras que Sócrates e seus seguidores querem impor? Também acredito que a moralidade seja a melhor de todas as regras para orientar a humanidade, mas a minha moralidade é diferente das suas que exige a massificação do pensamento, onde todos seguem como cordeirinhos os ditames destas ditas virtudes. Acredito, como Protágoras, no individual; no livre pensar e no livre agir.

SÓCRATES: Percebo, pelos olhares que me lançam, que esperam uma resposta minha ao ataque de Nietszche, mas minha consciência diz que o fato de Nietzsche ser injusto comigo, não me dá o direito de sê-lo com ele. E com isso eu pratico aquilo que vejo como virtude.

NIETZSCHE: As convicções são inimigas mais perigosas à verdade dos que as mentiras.

EPICURO: Também penso que o cidadão tem obrigações que o indivíduo não tem. É preciso separar o cidadão - que é ente político – do ser humano enquanto indivíduo. O cidadão precisa seguir regras, mas o indivíduo é livre e basta-lhe procurar a boa vivência, que é encontrada na paz e na amizade. Bom seria que as pessoas vivessem em pequenos círculos, vilas pequenas, como é o meu jardim e lá vivessem o cultivo da serenidade, da troca de experiências e da prática da bondade, longe das agruras do embate político, das lutas intermináveis pelo poder que, por si só, desconstituem a virtude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário