sexta-feira, 15 de maio de 2015

Reunião de Filósofos 9 : A origem da vida

        AGATÃO: Vamos começar este simpósio refletindo sobre a primeira das indagações: Como surgiu a vida?


    HERÁCLITO: Deve ter havido um elemento primeiro que deu origem a todos os outros. Pitágoras, por exemplo, acreditava ser a água, Demócrito dizia existir partículas indivisíveis denominadas átomos. Outras teses de outros filósofos foram apresentadas e eu acredito ser o FOGO este princípio, porque sua chama é a representação viva da transitoriedade da vida, porque tudo nasce, cresce e morre. Assim é o fogo! Ora está mais aceso, ora mais apagado, até que fenece quando não é mais alimentado. Tudo é transitório, o rio em que você se banhou ontem, já não é mais o mesmo se hoje entrar nele, já não será mais a mesma água.



PARMÊNIDES: Tolice o que dizes! O ser, aquilo que existe, é permanente e imutável.  O ser é e o não ser não é. O ser é desde sempre e sempre será, pois água é água e aspectos como sujeira, cor e temperatura são transitórios e não mudam o fato de que água é agua. O que dá qualidade de existência à água é a sua essência. A água de hoje será a mesma de amanhã, como a água de um copo é a mesma de outro, pois o que importa é sua essência.

          

HERÁCLITO: O mundo existe pela força dos contrários, ora é água quente, ora a água é fria. É o movimento dentro do que permanece.

PARMÊNIDES: Ainda assim será água, eterna e imutável enquanto tal. Quente e frio são atributos passageiros...

 KANT: Sobre o fogo, considero uma teoria interessante, pois suas duas atribuições básicas, luz e calor, são substâncias próprias de uma matéria sutil e elástica uniformemente difusa, que é por onde os corpos agem uns sobre os outros. Deste movimento formou-se a vida.
          

ZENÃO DE CÍTIO: Penso que uma Mente Criadora  fez tudo perfeitamente em seu devido lugar, cabendo a nós seguirmos o fluxo dos acontecimentos. Se tudo está perfeitamente posto não há porque agirmos contrariamente a eles. Vamos simplesmente aproveitar as benfeitorias da natureza.


SANTO AGOSTINHO: Pois eu acredito que Este princípio criador é Deus, onipresente e onisciente, Aquele que tudo criou...
          

ARISTÓTELES: É uma ideia plausível, a de um Deus único... Tudo o que foi gerado no mundo possui uma causa, pois nada pode existir se algo não lhe causar ou não criar tal existência. Todavia, há que existir uma causa primeira que causou todas as outras sem ser causada, a quem dei o nome de Primeiro Motor Imóvel. Ele é o supremo bem e a suprema beleza e funciona como um imã a atrair todos os outros seres, pois todos os seres são atraídos pela ideia do bem e da beleza. Ele é o ser de Demócrito, eterno e imutável; e talvez seja o Deus de Agostinho. Todas as outras coisas são passageiras como diz Heráclito.


PLATÃO: Meu querido discípulo, sempre mediando conflitos! Acredito que existam dois mundos distintos: o mundos das ideias e o mundo sensível. O mundo das ideias é representado pela alma e o mundo sensível pelo corpo. O primeiro é imutável e permanente, o segundo é transitório e passível de enganos. Para cada ser existente no mundo sensível, há um outro, perfeito e belo, no mundo das ideias. Os seres do mundo sensível são, portanto, cópias imperfeitas do mundo das ideias.
          
HUSSERL: Penso que mais importante que saber a origem das coisas é compreender o mundo.
          
PROTÁGORAS: Concordo com Husserl. Não se discute a existência ou não das coisas, nem sua origem, mas a sua relação com o homem e a forma como este as percebem.
          
SÓCRATES: O importante é conhecermos a essência das coisas...
          
JEAN-PAUL SARTRE: A essência não é tão importante quanto existir, pois nascemos do absurdo, do nada, e para o nada voltaremos. De todos que falaram até agora o mais sensato foi Heráclito, pois a transitoriedade é fato consumado, tudo nasce e morre. Não existe uma força criadora, o ser só é enquanto existe e não há essência pré-determinada nos seres. Se assim fosse, não existiria liberdade, esta sim, nossa única condenação.
          
SÓCRATES: Pode o nada criar algo? O que é o nada? Afirmar que somos gerados do nada, não seria uma forma de misticismo passivo? Acredito que devemos procurar a verdade para encontrar esta essência criadora. Você, Sartre, parece tê-la encontrado, a seu modo, quando afirma que a liberdade é nossa condenação. Talvez seja a liberdade a nossa essência, embora esta afirmação ainda careça uma averiguação mais profunda.
         
SARTRE: Volto a afirmar, não temos uma força criadora e, portanto, não temos uma essência que exista antes de nós. Nossa essência se formará conforme nossas escolhas, somos frutos delas e livres para fazer o que quisermos, estamos aí como obra do acaso. Ela própria, a essência, é mutante; muda por escolha nossa.
          
SÓCRATES: Vou aceitar, para efeitos de raciocínio, que a liberdade seja comum a todos indistintamente e nossa primeira atribuição. Nesse caso, estaria aí a nossa essência?
          
SARTRE: Agora a falácia é sua, parece um sofista! Se há uma essência, estamos presos umbilicalmente a ela. Nesse caso, como pode haver liberdade? Seria uma contradição.
           
ARISTÓTELES: Não há provas, caro Sócrates, de que a liberdade seja universal e que exista plenamente; e mesmo que exista, há outras atribuições comuns a todos os homens que estão em sua essência, como a racionalidade por exemplo.
          
SARTRE: A liberdade só existe se for plena, não se é meio-livre, como não se pode ser meio-morto.
          
SÓCRATES: Então, acabas de aceitar que a liberdade possui como atribuições a universalidade – já que é comum a todos - e a imutabilidade. Estás rejeitando, nesse caso, a transitoriedade de Heráclito, a quem elogiou.
          
SARTRE: Ao contrário, é justamente a liberdade quem nos dá a possibilidade e garantia do transitório, pois através dela escolhemos ser ou deixar de ser.
         
ROUSSEAU: Os homens nasceram livres e por toda a parte estão aguilhoados. A liberdade é parte da essência do ser humano. Foi o próprio homem quem, através de suas ações mesquinhas e egoístas, fez-se preso.
          

SANTO AGOSTINHO: Essa liberdade vem de Deus, que nos deu o livre-arbítrio.
         
NIETZSCHE: Se por todos os lados só existam homens acorrentados, como afirmou Rousseau; e a liberdade vem de Deus, como afirmou Agostinho; onde está a autoridade divina? Como este Deus, que deu a liberdade, deixou que lhe fosse tirada? Um Deus sem autoridade é um Deus fraco e um Deus fraco não sobrevive! Então, devo declarar: Deus está morto!
        
DESCARTES: É óbvio que existe Deus, o único e incontestável Ser Perfeito. A primeira prova é a de que temos uma ideia de perfeição e, como seres imperfeitos,  não poderíamos tê-la sem que algo perfeito a impusesse a nós. Outra prova de Sua existência é que se nós - que temos a ideia do que é perfeito - tivéssemos criados a nós mesmos, teríamos nos feito perfeitos. Além do mais, o imperfeito não pode criar algo perfeito, pois não está ao seu alcance. Então, apenas alguém perfeito pode ter criado a tudo perfeitamente e Este Ser é Deus.
          
NIETZSCHE: Não foi Deus quem nos criou, fomos nós quem o criamos. Desde que a razão passou a comandar nossas ações, impondo-nos regras e violentando nossa vontade, houve a necessidade da presença de um Deus forte e opressor, a fim de nos causar medo e garantir que cumpríssemos com as regras estúpidas da razão.
         
HERÁCLITO: Deus é o dia e a noite, o inverno e o verão, a guerra e a paz, a abundância e a carência; ele se converte em outro tal qual o fogo misturado aos aromas; ele é a força dos contrários, chamado como melhor agradar a cada um.
         
AGATÃO: Este é realmente um tema de complicada resolução, pois possui muitas nuances e questões intransponíveis, como a fé, por exemplo. 












Nenhum comentário:

Postar um comentário