quarta-feira, 6 de maio de 2015

Reunião de Filósofos 7 - A Verdade

AGATÃO: Vendo-os falar com ideias tão contraditórias, com tão bons argumentos, fiquei refletindo sobre a verdade. Será que existe uma verdade única?


PROTÁGORAS: Se há ideias tão contraditórias, caro Agatão, é porque não existe uma verdade única, pois tudo é relativo. O que é certo em uma cultura, pode ser errado em outra; o que é nobre em um tempo, pode ser motivo de vergonha em outro; e o que é aceito em um lugar, pode ser rejeitado em outro. A única verdade existente na verdade universal é a sua tirania.


SÓCRATES: Pois eu penso que devemos buscar a verdade nas coisas. Não podemos ser justos, se não soubermos definir o que é justiça; não podemos amar, se não soubermos o que é amor; nem lutar, se não soubermos o que é coragem. De nada valerá a afeição do povo por um governante, se este não for justo; pois será uma afeição advinda de um falso julgamento, assim acontece com o amor de uma esposa por seu marido, se este a trai; e de nada vale a um General vencer uma batalha, se ele é um covarde atrás de um grande exército, a glória de sua vitória é falsa. Assim acontece com as verdades relativas, meras opiniões sem um julgamento preciso.

KANT: Se a vida é subjetiva, a verdade também deve sê-la. A verdade universal nos leva ao dogmatismo e a verdade relativa, por outro lado, ao ceticismo. Ambos são extremos perigosos, pois nem tudo pode ser dado como certeza, assim como nem tudo deva ser duvidado. A investigação, portanto, nos dirá o que é certo e o que é errado. A questão de Deus, por exemplo, não temos como saber, através da razão, que Ele exista. É a fé quem responde a esta questão, mas a fé é subjetiva, tornando Deus uma verdade subjetiva, pois neste caso não importa a existência de Deus, mas o bem que me faz ao acreditar em sua existência. Então, a verdade é subjetiva, pois existem conhecimentos inatos e conhecimentos posteriores, verdades da razão e verdades da fé.

MAQUIAVEL: Então estás dizendo Kant, que a fé que tens em Deus é muito mais por utilidade do que por crença real. Parece uma ideia contraditória à sua própria tese de verdade subjetiva, tornando-a utilitalista. Por isto defendo a verdade efetiva, pois todos vêem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você realmente é. A verdade efetiva é uma realidade fora da subjetividade, que despreza as intenções divinas, o sobrenatural, os fatalismos e os imperativos, trabalhando com o real.

PLATÃO: A verdade está ligada à razão e não pode seguir o subjetivismo de Kant, nem o relativismo de Protágoras, porque são dotadas de enganos; tampouco deve ser efetiva, pois o utilitarismo trazido por ela é pérfido e mal, já que não repudia as más intenções. A verdade se encontra no interior da alma de cada um e é comum a todos, pois todas as almas conhecem a mesma verdade. Então, como Sócrates, acredito que a verdade existe e deva emergir através da reflexão racional.

NIETZSCHE: A verdade não existe! É uma abstração, ideias formadas por quem detém o poder e as impõem aos outros como algo que deva ser a realidade dos fatos e ações. Vejam as verdades dos racionalistas, servem para legitimar suas regras e, por conseguinte, seu poder sem que sejam questionados. Por muitos séculos, as ditas verdades bíblicas autorizaram a Igreja a produzirem atrocidades. No final, são os vencedores quem contam a história. Só sei que não há fatos eternos, como não há verdades absolutas.

MARX: Neste ponto concordo com Nietzsche. A verdade é um contigenciamento histórico entre os atores sociais e deste embate surge uma ideia vencedora, sendo ela a verdade. A força, portanto, deixa a história mal contada, uma vez que apenas uma parte é tida como verdadeira, pois as ideias dominantes numa época nunca passaram das ideias da classe dominante. Os homens fazem a sua própria história, mas não o fazem como querem... a tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos. 


SARTRE: Concordo que a verdade seja subjetiva, pois ela é dada pelo sujeito que pensa, não havendo, portanto, uma verdade em essência. Qual é a essência da verdade?  O que existe é uma ideia que se coloca como superior à outra atribuindo-se a si mesma como verdadeira. Por exemplo: não existe “marginal em essência” como não existe “gente honesta em essência”, estas são atribuições dadas por uma verdade extraída de uma dada ideia que dá a uma pessoa a qualidade de desonesta e, a outra, honesta.


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